POEMA SEXAGÉSIMO SEXTO
 
 O amor é um poema. Dói e canta cá dentro. Tem a filosofia das árvores, a
 lição do mar, os ensinamentos que as aves recolhem quando migram para 
lá dos desertos, de onde hão-de regressar mais sábias e seguras. O amor é
 uma causa. Uma luta excessiva com a divindade dos dias e a sua fogueira
 obscura. Mas também contra o mistério de si mesmo, uma paz que nos dá o
 cansaço e a loucura infeliz da felicidade, esse primitivo terror dos 
sinos que tocam como um aviso aos densos nevoeiros súbitos do mar. O 
amor é uma casa. Erguida com os beijos, com os versos da noite e o 
gemido das estrelas. Casa cujas paredes vestem o nosso júbilo, a nossa 
intuição, a nossa vontade, sobretudo o nosso instinto e a nossa 
sabedoria. Onde se acende e brilha a luz suplicante da pele comprometida
 dos amantes. O amor é um gigantesco pequeno mistério, uma estranha 
generosidade que faz com que, quanto mais damos, com mais ficamos para 
dar. Só o amor é o elixir da juventude. Não esse que sempre se procurou 
nas indecifráveis fórmulas dos antigos livros de magia e de alquimia, 
mas aquele que está tão perto de nós que, por vezes o pisamos sem 
reparar.
 
 Joaquim Pessoa, in GUARDAR O FOGO.
 
 
 
 
          
      
 
  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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